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terça-feira, 21 de junho de 2011

Minha última carta suicida

Não é a primeira vez que escrevo uma carta dessas. As marcas de cortes nos meus braços, os pinos nas minhas pernas, a vergonha dos meus familiares podem confirmar o que digo. Tentei várias vezes tirar a minha vida, mas nunca consegui. Se essa carta não foi queimada como as outras, é porque, desta vez, não voltei para fazê-lo.

Entrarei para um grupo seleto de seres humanos: os suicidas. Deus misericordioso perdoa tudo e a todos, caso exista arrependimento, mas não aos suicidas. Aparentemente, Ele nos deu livre-arbítrio, mas é tão vaidoso que não gosta que alguém, além Dele, acabe com a Sua maior criação. Se o que dizem é verdade, nunca entrarei no Céu.

Sairei de um grupo seleto de seres humanos: os vivos. Se Ele não existe, a morte será o fim. Desaparecerei por entre vermes e bactérias que farão o trabalho de acabar com o meu corpo. O carbono de minhas moléculas persistirá em um mundo que fiz questão de abandonar. Se o que dizem é verdade, não existe Céu ou Inferno.

Talvez você queira saber o porquê. Por que vou acabar com a minha vida? Posso ser depressivo, posso ter sofrido uma decepção amorosa, posso só querer chamar a atenção. Mas a razão faz alguma diferença? Eu vou estar morto e você a caminho da morte, querendo ou não.

A cada instante, você e eu, caro leitor, estamos mais próximos do fim, apenas não sabemos o quanto. Só pode ser horrível “viver” assim. É agonizante que a única certeza de uma existência seja completamente inesperada. Mas não precisa ser deste modo. Eu não quero isso para mim.

Já tentei outras vezes e fracassei. Faltou coragem, mas agora entendo. Sinto-me mais poderoso, porque eu tenho um poder que você não possui. Eu escolhi morrer hoje, enquanto você apenas espera. Posso falecer antes do que quero, mas já terei feito a minha opção. Não serei medroso e impotente do mesmo modo que você é agora.

Para controlar a minha vida, adiantarei a minha morte.

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